18/02/2009

Sisley - Fashion Junkie - análise semiótica, por Joana Silva

Ao observarmos estas imagens podemos concluir que, o principal motivo é despertar a atenção. Podem haver várias formas de as explicar – o facto de remeterem sempre para a sexualidade, juventude, irreverência. Porém estes aspectos podem nem sequer fazer sentido.

No meu ponto de vista este fotógrafo tem o único objectivo de chamar a atenção da forma mais radical possível.
A sociedade de hoje tem na sua juventude uma característica muito vincada que, é a de querer mostrar ao mundo que se é moderno, que não se tem preconc
eito algum, que se é liberal e tolerante e que se vive dia após dia como se cada um fosse o último.

É a meu ver esta característica que marca todo o trabalho do fotógrafo Terry Richardson nas campanhas da marca SILSLEY. As imagens da campanha marcam um evoluir e soltar, tanto do fotógrafo como da marca. Se antes as campanhas eram já bastante atrevidas, extravagantes e até mesmo excêntricas, estas duas imagens são tudo isso e muito mais. É notável aqui uma certa arrogância e excentricidade um tanto insultuosas e exageradamente provocantes. Podemos interpreta-las de várias formas.


Pode haver quem ache que, estas imagens nada têm de mal, pois mostram duas mulheres jovens a ‘consumir’ a roupa da marca SISLEY como que se estivessem viciadas nelas. Até aqui tudo bem, até eu concordo sim, que a ideia é bastante original mesmo que provocadora. Porém, e se a observarmos atentamente notamos que para além da roupa que é ‘consumida’ pelas duas mulheres, há um cartão de crédito coberto de pó branco em cima da mesa onde estas se encontram. Este facto fez com que, eu começasse a olhar para a imagem de forma não tão ingénua.

Em jeito de crítica negativa deixo aqui o meu parecer inicial quanto às duas imagens.
O facto de se encontrar um cartão coberto de pó branco (aparentemente cocaína) em cima da mesa onde as duas mulheres se encontram, levou-me a concluir que, para além de se tratar de duas mulheres da classe média alta ou por muito alta mesmo trata-se também de duas mulheres que consomem drogas, mas drogas que não são para qualquer pessoa, dado seu elevado valor comercial. Entendo com isto que, se trata de uma mensagem subliminar que passa a ideia de que, estas roupas são somente para pessoas de um ‘certo nível’ económico-social e que estas somente estarão ‘na moda’ se consumirem drogas e vestirem SISLEY. Isto fez-me crer que, a imagem desta marca foi levada para um campo muito pessoal do fotógrafo que, aparentemente deve cons
umir estas ditas drogas e deve também com certeza achar que, ao consumi-las, este se torna uma pessoa mais interessante, mais charmosa, mais ‘na moda’.

Contudo, se analisarmos bem o mundo dos famosos, quase todos eles devem pensar desta forma. Como vemos nos filmes por exemplo, os indivíduos da classe alta tem como vício a cocaína. Onde em vez de serem eles a ir buscar a droga ao sítio onde ela está (como acontece com os indivíduos menos endinheirados que, consomem outros tipos de drogas), os próprios traficantes levam as drogas a casa dos ditos ‘ricos’.


Após analisar cuidadosamente esta imagem dei-me conta de que, ela no fundo tem uma mensagem bem positiva e merecedora de ser colocada nos Outdoors. O que aconteceu foi que, tive vários processos de interpretação e acho que, todos o deveriam ter também.

Confesso assim que, apenas após observar sucintamente a imagem uma meia dúzia de vezes me dei conta do que deve ser o verdadeiro significado dela. Passo então a explicar: Esta marca e como toda gente sabe, não é para o bolso de qualquer um – sabemos à partida que, a divulgação desta mesma foi sempre provocadora e excêntrica e aparentemente de cara produção. Este tipo de produção de moda leva a que as pessoas olhem para os Outdoors com curiosidade de ver o que a SISLEY fez de novo (sempre à espera de mais e melhor).


Nesta campanha publicitária não fazia sentido a marca permitir que vulgarizassem nem prejudicassem esta boa imagem que a SISLEY construiu ao longo dos anos. E foi este pensamento que me fez mudar a forma de olhar para a imagem. O que eu vejo são duas mulheres ricas (dado o cenário luxuoso e roupas vestidas e como já referi, às drogas em cima da mesa) que no convívio devem consumi-las frequentemente. Porém, estas duas estão em cima da mesa onde supostamente poderia ser usada para colocarem a cocaína – e ao contrário do que me veio primeiramente à cabeça, elas não estarão a consumir a cocaína em cima do vestido mas sim, deixaram de parte a cocaína e deram lugar ao vício de bem vestir. O que peca nesta imagem é a droga estar tão perto da roupa e levar o espectador a pensar que as mulheres estão a consumi-la.

Poderá ser também o aspecto das modelos que aparentam estar drogadas, pelos olhos revirados e maquilhagem borratada que faz com que se pense tratar de consumo de cocaína. Contudo esta é a minha interpretação da imagem e deve ter sido de facto o que se pretendia com a campanha – o deixar as drogas de lado e maravilhar-se, viciar-se nas roupas da Colecção Outono-inverno 2007/08.

Texto de Joana Silva © 2009


3 comentários:

Anónimo disse...

vc explicando dessa maneira tem um sentido sim! e pode até ser que a intenção da marca foi essa... mas o que conta e a primeira impressão e ninguém vai parar para ficar analisando as imagens assim, pelo menos acho eu. Se queriam chamar a atenção conseguiram, mas de uma maneira muito negativa.No mundo da moda já subtende esse tipo, com modelos magras e maquiagens estranhas,não precisava de tanta ousadia.

Joana Silva disse...

De facto, é do conhecimento público que o ambiente no mundo da moda é assim mesmo, tudo em exagero, magreza, vícios e mesmo prostituição em alguns casos. Se bem que na sociedade não é aceite esse termo, preferem dizer que as modelos dormem com quem as favorece, para mim isso não deixa de ser prostituição.
Neste caso em concreto, acho que a marca Sisley não seria negligente ao ponto de prejudicar a sua imagem propositadamente, associando-a directamente Às drogas. Contudo acabou por faze-lo de qualquer modo.

Paulo Abrantes disse...

Joana,

Embora julgue uma análise com uma prespectiva interessante, acrescento aqui um reparo que considero util.

A fotografia em causa não é Terry Richardson, nem a campanha é da SISLEY.

O fotografo é anónimo e foi lançada sabe-se lá por quem, correu muita tinta em tribunais, mas as fotografias da campanha forjada podiam bem ser de Terry Richardson.

Tudo isto ainda deu mais visibilidade à marca, e a colagem à irreverência e ao choque, como a Joana tão bem descreve, manteve-se.

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